Idéias móveis

Vai lendo... vai lendo....
vai vendo... vai vendo....
e, se quiser, dizendo, acrescentando
que das idéias pululando, algo há de caber.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Prisma Romântico - Porto Mulher

E quem sabe, se no porto finalmente atracasse, me faria âncora, e deixaria de vez o mar a deriva


Se na cidade do Porto acordasse
entre a brisa do mar suave
e o frescor de um sol menos incandescente...
me encheria de alegria a visão do cais.

E os bolinhos e pastéis
de sabores sem igual.
E até mesmo o aroma de seus vinhos me agradaria,
Os mesmos que eu, hereticamente, não beberia.

Me encantaria com as pessoas, a cidade.
Que me passa a impressão de felicidade...

Mas nada mais me encantaria que a possibilidade de ve-la

A ela que me perturba e me exalta e altera.

Ela que me apertou e me abraçou
com tamanha intensidade em nossa despedida
que pela noite já findada me passou a sensação
de que a bendita noite não havia sido em vão

Naquela noite me senti mais vivo.
Mais que outrora houvera sido.

E apesar da tua falta sempre constante,
agora não me faço refém da saudade,
que já se tornou amiga.

Mas sim... adoraria estar com ela.

Se por entre tuas pernas acordasse
inebriado e emaranhado em teus cabelos,
sob o aroma de teu corpo,
ao som de tua leve respiração....

....haveria em meus lábios um certo sabor de vitória,
de complacência,
.......perfeição.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Contos Inacabados - O otimista cansado

Eu ia postar um comentário bacana..... mas eu to muito cansado

Era tarde da manhã de segunda.
"Maldita segunda feira!"
Naquele dia, mais cedo, mais uma vez ele acordou o sol e maldisse seu relógio biológico que insistia em despertá-lo.

"Estou tão cansado."

Cansaço profundo e enraizado, que nenhuma noite de sono parecia aliviar. Dormia horas e acordava cansado. E por vezes dormia pouco demais.

Seus braços pesados, suas pernas desobedientes, sua cabeça.... pesada, muito pesada e pensativa o mantinham deitado em seu leito de preguiça e inércia. Mas mesmo assim levantava.
"Puta merda! Imagina só quando eu estiver velho"

 Não queria sair, nem sorrir, nem beijar, nem sentir.... apenas queria dormir. E desejava profundamente voltar a sua cama enquanto tomava um banho mal tomado, na tentativa de despertar.
Observou sua toalha felpuda e macia num tom vibrante de verde. Queria se sentir menos cansado e aproveitar mais livremente as cores e os sabores que a vida tem.
Benditas cores, onde estavam as cores?
"Porra! Que maldito tom de cinza minha vida tem."

O que lhe trouxe de volta a consciência foi um café quente e forte, geralmente um bálsamo rejuvenescedor.
Hoje lhe descia rasgando, sufocando a sua garganta, sem sabor, apenas amargo.... mais açúcar.... e ainda amargo.
"Ah que merda!"

Bebeu mesmo assim, apreciando o gosto ruim, e indagando.
"A vida deve ter um sabor diferente desse café amargamente podre. Precisa ter!"

Acreditava nisso. Isso o fazia continuar.
E esperava na sua ilha de sanidade, náufrago num mundo de lamúrios que ele detestava.
Tinha esperança. E até mesmo a bela e verde esperança, esse sentimento "irracional e piegas" ele não gostava de ter. Gostava mesmo é de resultados rápidos, queria ver a vida melhorar de uma hora pra outra, como num passe de mágica. Queria acordar bem, se sentir bem, se sentir feliz.
"Que pensamento ridículo!"

Parou em frente a porta com a chave da moto na mão, pronto para sair, atrasado como sempre. Pensando cansado, se iria ou não trabalhar naquele dia. Depois de um breve apagão mental, decidiu sair. Suas pernas lhe obedeciam por enquanto, seus braços se moviam, sua acabeça acordava e parava de turbilhonar. E decidiu adiar o descanso por mais um dia.
"Hoje o trabalho venceu. Isso é um bom sinal.".........
........"Otimismo idiota"

Essa sucessão de pensamentos o surpreendeu, o fez olhar pra dentro si. Gemeu e resmungou algo inaudível.... e bateu a porta pensando se realmente gostava de alguma coisa em si mesmo.

Ouviu uma voz por trás da porta dizendo:
- Bom dia!
"Quem dera...!"

Mas lá no fundo... acreditava que seria. E foi-se, e quem estivesse observando pela fresta da porta do elevador poderia ver um tímido sorriso em sua face. Mas os seu olhos.... esses estavam cansados demais para sorrir.
Montou na moto e ligou. Saiu cantarolando um dos seus sambas favoritos sem preceber.
"Tristeeeeeeeeeza não tem fim, felicidade sim."

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Afrodescendência

"Os meus olhos coloridos me fazem refletir"

De Oxóssi,
porte como tal.

De Oxum,
brilho como tal

De Oxalá,
velho como tal

Do samba,
bambo como tal

Da capoeira,
jogo como tal

Liberdade,
desejo como tal

Igualdade,
exijo como tal.

Me vejo forte, me vejo sonho....
Me vejo preto como tal.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Crônicas do Alvorecer - A Tristeza da Monalisa

Todo sorriso esconde uma dor, toda tristeza tem o seu valor


Tristeza constante.
Nem sempre aparente,
mas sempre presente
No fundo dos olhos está.

Existe em mim uma tristeza constante.
Nem sempre aparente,
mas sempre presente.
Bem no fundo dos olhos.
Ela está lá.

Estou sempre triste.
Por algo ou alguém,
de alguma forma sempre triste
E por vezes, quando triste,
me sinto feliz também.

De forma que minha tristeza e felicidade nunca são completas, é sempre um espaço de interseção entre as duas sensações opostas pendendo mais para uma que para outra.

Gosto de músicas down.

Mergulho numa tristeza profunda e gostosa, uma melancolia abissal que me preenche.
Me transborda.
E basta deixar a correnteza fluir, que me sinto melhor mais a frente.
Mais leve.

Eu nem luto
me deixo ir
não tento não sentir.
Submergindo numa tristeza minha,
que não é só minha,
e não está sozinha,
pois a alegria está logo ali.

E nesse espaço tempo hedonista em que nasci
me sinto na contramão da humanidade.
Meus olhos tem um peso desnecessário,
e marcam de tristeza um semblante que sorri.