Idéias móveis

Vai lendo... vai lendo....
vai vendo... vai vendo....
e, se quiser, dizendo, acrescentando
que das idéias pululando, algo há de caber.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Prisma Romântico - Flavoreios

O meu maior medo de ser, é me perder, sem ter jamais me encontrado

Meu coração flutua
Ao leve sabor da maré
Não se importa com o que quero
Tampouco sabe o que quer

Meu coração vagueia
Sem saber p’ronde vai
Cortando a marola da dor
Na brisa suspiro dos ais

As ondas sacodem o cais
Tempestades, ventanias!

Ah! Como eu queria...
Em meio a tanta agonia
Achar fresta de sol
Atracar na calmaria

Navega impreciso meu barco
Vencendo as ondas em fúria
E mesmo na imensidão do breu
Jamais se entrega a lamúria

Balança e rodopia o barco
Sem caminho, sem razão
No mar mais bravio e perigoso
Há de se perder pobre barco corajoso
No mar sem fim da paixão

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Contos Incabados – A (quase) Casa

Quanto me vale tudo, se o pouco me convém?

“Abrigo
Uma necessidade quase tão antiga quanto as primeiras formas de vida. Contra o frio, o escuro.... contra a vida. Há quem diga que as mitocôndrias são bactérias que se refugiaram no interior de outras células e se especializaram em produzir energia, em troca de abrigo e alimento.

Cavernas, troncos ocos, esconderijos, tocas. Abrigo”

Com esses pensamentos zumbindo em seus ouvidos, apenas idéias soltas sem nenhuma concatenação, ele adentrou o pequeno espaço. Parede e piso brancos, apertado, mas nem tanto. Sem sala, mas uma grande cama, um banheiro respeitável, cozinha sem divisória com mesa para 3 lugares.

“Que exagero”, pensou. Pretendia ficar sozinho. Precisava. Embora desejasse avidamente por compania.

Rapidamente ocupou a cadeira com entulhos que trazia nas mãos, tesouros seus, inestimáveis, e sem nenhum valor real: um ventilador velho, um capacete novo e barato, algumas compras e a camisa que vinha dependurada nos ombros.

Olhou para a cama de casal....”bom, essa eu não pretendo desperdiçar.” sorriu e rogou para ter essa sorte.

Foi ao banheiro lavar o rosto para espantar o calor e o cansaço. Havia muito por fazer e apesar da preguiça ele se sentia extremamente empolgado.

Não fazia idéia de quanto há quanto tempo não se sentia tão livre.... e só, e feliz, e saudoso, e esperançoso, e apertado(de dinheiro) e enfim....seu.

Lhe pareceu que o sucesso de um homem é medido pelo espaço que ele (bem como o que ele possui) é capaz de ocupar. Sendo assim ele teria evoluído, saindo de um quarto minúsculo para uma gostosa kitinete de 5x5m.... não importava se isso fazia sentido ou não, verdade ou mentira, era assim que se sentia. Naquele espaço era rei.

Um rei nú, que comia besteiras, com uma dieta a base de sanduíche, sucrilhos e raras frutas. E a não ser pela impressionante capacidade de fazer um respeitável ovo frito e um miojo talharim (o único que suportava) era um perfeito inútil na cozinha. E seria o maior dos desafios permanecer assim, pois tinha aversão a qualquer serviço doméstico. Inclusive a arrumar a própria bagunça! Por vezes desejava que os objetos voltassem sozinhos aos seus lugares e lhe poupassem um tempo precioso da vida. Sorriu ao lembrar de sua avó, que enquanto catava as suas coisas sempre dizia que “a limpeza Deus amou”. Ele sempre lhe respondia, lhe arrancando um sorriso, “eu sou gente boa, minha bagunça Deus perdoa!”. Morria de saudades dela.

Olhou mais uma vez em volta e pesou a sua realidade:
O aluguel era bom, o lugar satisfatório, a sua bagunça habitual o incomodava, mas não o suficiente para fazê-lo arrumar....e ele nem sabia por onde começar de qualquer forma. Não havia guarda roupa, ou espaço para suas roupas.

Riu-se “ahhhh meu Deus, crescer vai dar trabalho!”

Catou um papel qualquer entre seus muitos e colou na porta os seguintes dizeres:

“Longe de ser o melhor lugar,
Mas era seu.
Um lugar pra retornar:
Lar.”