Idéias móveis

Vai lendo... vai lendo....
vai vendo... vai vendo....
e, se quiser, dizendo, acrescentando
que das idéias pululando, algo há de caber.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Prisma Romântico - O QUERER, bem querer



O que antes me "corria", me corre nas veias

Quis te ter...
Te colocar no colo e fazer cafuné
Quis te dar carinho
Sentar no bar pra te ouvir falar

Passar pelos lugares onde vc pudesse estar
Quis velar teu sono
Quis te ver passar
Quis e como quis ser teu

Quis medir nas tuas palavras o teu carinho
Quis falar com outros pra saber de ti
Quis tanto, tanto o teu amor
Como só pode saber quem quer

E quis, como quis!
Além de tudo, mais,
Te deitar na cama
Te sentir mulher

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Contos Inacabados - Encontro vazio

às amizades, vazios e curiosidades. às pessoas que caem como luva nos momentos mais precisos


- Idioooooota, todo mundo sabe que um copo vazio, não tá realmente “vazio”! Tá cheio de ar!

E com um tapa na nuca do amigo, o sabichão da química esperava fazer a idéia entrar naquela cabeça aparentemente oca. Tão oca quanto a expressão que o garoto sustentava durante a explicação do sabichão. Era realmente difícil não querer dar um tapa naquela expressão débil.

É, o sabichão devia se dar bem nas provas. Mas mesmo que a resposta do sabichão ganhasse um 10 do professor. Mesmo que fosse um cara do tipo nerd legal, ou descolado inteligente... ele estava completamente errado.
“Existe uma pequena parcela da população, aqueles que realmente pensam e sentem (até demais), sabem – o vazio é Foda!
Está esclarecida uma das grandes questões da vida e contestada a teoria da relatividade. O vazio é absoluto.
O copo é um bom exemplo. Foi feito para conter. Enquanto vazio, apenas espera para ser novamente preenchido. Para que o seu interior seja invadido por algum conteúdo interessante, ou inútil, tanto faz. Ele existe para ter algo que o preencha.”

Sentiu-se vazio. Um copo, vazio e rachado.

“Pelo menos uma taça.... taça é mais elegante.”

Olhou ao redor, mais uma vez tentando perceber qualquer coisa diferente que lhe chamasse a atenção.
O dia estava ensolarado e aquele banco de praça era bom como sempre... pessoas indo, vindo, babás passeando com crianças, uns velhotes jogando dominó ao longe... ou seria dama? “ ah quem se importa!”. E um cachorro cagando em área onde havia uma placa escrito “NÃO PISE NA GRAMA” (engraçado como quando um cachorro caga ele murcha as orelhas e faz cara de coitado.... parece que sabe que está fazendo merda! Literalmente, ou não).

“Tudo bem amigão, aí não fala nada sobre cagar.” Riu sozinho.

Foi quando, pensando essa merda sobre a merda do cachorro, ele se deparou com um olhar perdido do outro lado da praça....
Uma mulher jovem, bonita, de boina, óculos cult, camisa com personagem de cinema, calça cargo, uma Canon nas mãos..... tinha uma expressão tranqüila..... e um olhar perdido, olhando para o nada, parecia estar fazendo hora que nem ele. Diferente da expressão oca do moleque anterior, ela possuía uma expressão sóbria e consciente... um vazio consciente! Pelo menos foi o que conseguiu definir daquela distância.

Após gastar alguns segundos pensando se deveria ou não se aproximar, levantou-se foi até ela - como sempre seu lado impulsivo venceu o debate. Durante a caminhada, de uns 20 metros, ele mais uma vez observou o cachorro, que saiu andando alegremente deixando a prova do crime no jardim e deu mais um sorriso espontâneo, muito raro ultimamente. Quando voltou sua atenção para a fotógrafa ela estava com a câmera apontada para ele. Isso o pegou um pouco desprevenido, mas não o desagradou em nada. Encurtaria a distância para uma aproximação.

Quando ela percebeu que ele ia em sua direção, pareceu um pouco desconcertada e focou sua lente em outro lugar. Mais alguns passo e ele pergunta:

- Tirou boas fotos hoje?
- Algumas. Ela responde sem muita certeza do que disse
- Por acaso tirou alguma minha? – perguntou sorrindo
- Tirei sim. – ela deu um sorrisinho tímido.
- Posso ver?
- Ah..... bem.... pode... é uma foto sua né.... acho que vc tem direito. – E mostrou-lhe relutantemente a foto do momento em que ele olhava o cão abandonando o jardim. Mãos nos bolsos da calça cargo, camisa “gola V” justa e cabeça virada para o lado direito e um sorriso aberto. A folhas no chão e a luz por entre as árvores deram um toque outonal à foto. Ele adorou.

- Uau! Eu pareço muito bem nessa foto! Melhor que o real. Vc é realmente muito boa! Eu não sou nem um pouco fotogênico.
- Ah, obrigada – Ela disse mais uma vez sem graça.
- Posso ver as outras?
- Desculpa, mas eu não gosto muito de mostrar minhas fotos. É um pouco pessoal demais.... entende?

Ele achou aquilo extremamente interessante. Gostava de escrever de vez em quando, admirava a pintura e ainda mais as esculturas. Mas não sabia quase nada sobre fotografia – o “quase” se limitava a manter as pessoas enquadradas e apertar o botão para tirar uma foto. Achou ali uma boa oportunidade de ampliar sua visão. Queria muito saber o que motivava um fotógrafo, além de roubar a privacidade alheia.
Depois de observar-se na câmera por mais um tempo, perguntou:

- E o que essa foto minha poderia dizer sobre você?

Aquele sujeito estranho fazendo tantas perguntas e tomando parte de seu trabalho estava começando a irritá-la e ela começou a procurar um jeito de sair dali. Por mais que ele tivesse lhe rendido a melhor foto do dia, estava sendo um pé no saco.
Ele percebeu que a colocara numa situação desconfortável e resolveu se explicar

- Me desculpe se eu estou sendo muito invasivo, mas eu me interesso por quase todas as formas de arte e não sei absolutamente nada sobre a fotografia.

Ela olhou no fundo de seus olhos. “Sinceros”. E respondeu.
- Quando você fotografa existem certos detalhes que deve considerar: filtro, luminosidade, enquadramento, foco, além de efeitos que pode utilizar. Gosto de fotografar pessoas em movimento no dia a dia. Esperei você andar até aquele ponto para capturar aquela luz no seu rosto, o sorriso foi pura sorte..... e gosto também de lugares amplos e vazios.

Ele absorveu cada palavra com a curiosidade de uma criança, mas aquela última deixou-lhe mais atento.
- Como assim, lugares vazios?

- Bem observe bem, você está no centro ao seu redor algumas folhas e, ao fundo, o banco que você ocupava e algumas árvores. Invariavelmente existem metros e metros de vazio nessa foto, entre você e o fundo. Observe essas outras....
Ela, sem perceber, abriu seu espaço, e mostrou diversas fotos impregnadas de vazio. Depois da quarta foto “cheia de nada” ele apenas observava a forma empolgada que ela lhe explicava seu mundo através da lente.

Se tinha alguma coisa em que o curioso era bom, era em conhecer as pessoas.
- Quer dizer então que a lente mostra aquilo de que o coração está cheio.

Interrompida, pega de surpresa, desprevenida. Concordou, deixando a verdade sair.
- Sim, é exatamente isso.

Ele olhou no fundo de seus olhos..... seu primeiro julgamento não estava errado. “Aí está ele! O vazio consciente que eu percebi logo de cara.”

Passaram algum tempo encarando o nada.... ela encabulada, por ter se aberto daquela forma para um estranho, e digerindo a própria resposta. Ele pensativo, vendo a doença do vazio se alastrar.
Interrompendo o momento constrangedor, olhou para a garota e sorriu
- Então minha cara taça vazia, como vc se chama?

- Pode me chamar de Alê. Taça vazia?! Essa foi ótima!

- Eu sou o Ricardo, muito prazer. Vc me ensinou uma ou duas coisas hoje. Muito legal falar com vc. E não se preocupe. De um copo vazio para o outro: sofremos do mesmo mal. Estava aqui sentado sem fazer nada tentando tapar meus próprios buracos.

- Não me leve a mal, não sou muito de conversar com estranhos, mas alguma coisa no seu comportamento me dizia para não me preocupar.

Ele deu outro sorrisão
- Certa vez me disseram que eu tenho cara de menino que nunca quebrou um prato. O que deve ser engraçado, com essa minha barba mal feita.

- Hahahahahhahahaa, com certeza! Mas eu devo discordar. Você tem a curiosidade de menino que já quebrou muuuuitos pratos!

- HAHAHAHAHAHAHAHAHAH. Droga! Agora fiquei com crise de identidade infantil. Minha criança interior não sabe mais se quebra ou não os pratos!

Os dois gargalhando, conversando besteira, vendo o tempo passar..... meia hora já devia ter se passado, até que ele fala.
- Ok, você me convenceu, vamos encher nossos copos vazios em algum lugar.

- Como assim, eu não to tentando te convencer de nada! Hahahahahaha que presunçoso!

- Você não, mas eu estava aqui decidindo se te chamava ou não pra continuar essa conversa num ambiente mais bacana. E você se mostrou uma pessoa muito melhor nos últimos 10 minutos do que nos 10 primeiros. Então você me convenceu a te convidar.

- Meu Deus! Você não existe! Acha mesmo que eu vou cair nessa cantada?

- Opa! Não me entenda mal. Isso não é uma cantada, é apenas um convite.....

- Bom, nesse caso... eu aceit...

- ....A cantada só virá depois da terceira taça.

- HAHAHAHAHAHAHAHAHA. Você é muito cara de pau!

- Você acabou de presenciar um dos meus maiores defeitos/qualidades: eu nunca perco uma piada!

Ele se levantou, e estendeu o braço para que ela o acompanhasse. “por que não? Meu dia estava uma merda até esse maluco aparecer.... ” posicionou sua câmera ao lado do corpo, pegou sua bolsa e aceitou o apoio do braço dele. Começaram a caminhar.

Ele diz:
- Espera! Isso pede uma foto, não?!

Ela imediatamente sacou a câmera e se posicionou ao lado dele com a lente virada para seus rostos.

- E como você nomearia a foto?
Ela perguntou.

- “Preenchendo o vazio”. - Respondeu.

- Você acha que a gente consegue?

- Não sei se totalmente, mas algumas coisas com certeza fazem ele ficar menor. Uma pizza por exemplo!


- Acho que descobri onde seu vazio fica. É no estômago! hahahaha. Com vinho?

- E por que não? Te devo pelo menos 3 taças antes de te cantar.

Saíram caminhando de braços dados, sorrindo e, com certeza, mais leves do que quando se encontraram.

domingo, 7 de agosto de 2011

Renascença

Ovo, casca ou casulo, é hora de abandonar... olhar por cima do muro.
E no dia de recomeço
com meu jeito meio tropeço
meu coração sem receio
só me resta seguir assim

Caminho traçado no passo
peito aberto pro futuro
a alma com fome de tudo:
Saber, sofrer e sorrir.